29/10/2011 22:46
Características Espirituais da Primeira Sociedade Cristã na América
por Iain Murray (adaptado)
Quando o navio Mayflower começou sua viagem de nove semanas pelo Atlântico em setembro de 1620, a intenção dos seus passageirosera a de plantar a primeira colônia nas partes do norte da Virgínia – de acordo com a descrição que eles tiveram da vista da terra ao redor da Ilha de Manhattan à boca do rio Hudson. Mas a terra que eles avistaram no dia 9 de novembro de 1620, foi Cap Cod, e como o ano já estava muito avançado para fazerem uma viagem adicional para o sul, eles escolheram ignorar a patente da Companhia de Virgínia que tinha autorizado a viagem deles e se tornaram os primeiros colonos brancos no que viria a ser a Nova Inglaterra (Área atualmente ocupada por Boston e outras adjacências, que foi o mesmo território escolhido por Deus para começar um século mais tarde o grande avivamento ocorrido com Jonathan Edwards. Cabe lembrar que toda aquela gente estava se refugiando nos EUA em face da grande perseguição instalada pelo governo da Inglaterra contra os puritanos, em face da intransigência deles por uma Igreja pura e imaculada, que servisse a Deus segundo o que nos tem ordenado na Sua Palavra – nota do tradutor) . A decisão deles trouxe ricas conseqüências. Tinham sido instalados ingleses de vários tipos na Virgínia desde 1607, e os holandeses tinham estado no Hudson desde 1609. Se os homens do Mayflower tivessem pousado em qualquer um desses lugares onde eles se achavam, seria duvidoso que eles pudessem ter formado uma nova sociedade de qualquer extensão geográfica. Eles teriam estado em proximidade íntima a homens de uma perspectiva muito diferente da que eles tinham. Por outro lado, o deserto de New England (Nova Iglaterra) apresentou a oportunidade para uma sociedade distinta e separada.
Provavelmente ninguém além dos Pais Peregrinos teriam considerado a pedra de Plymouth na Baía de Massachusetts um local desejável para formar uma colônia em 1620. O tabaco da Virgínia e o comércio de peles do rio Hudson não se encontravam ainda lá. A plantação de Plymouth começou com muitas desvantagens. A Virgínia teve em 1620 o apoio de riqueza e mais de mil colonos. Em contraste os Peregrinos de Plymouth, em dezembro de 1620, eram uns meros cinqüenta três homens adultos. Mas o fato notável nisto é que dentro de quinze anos New England havia se tornado a principal colônia no Norte da América. A população teve um crescimento inigualável, de umas 10.000 pessoas que tinham se fixado lá antes de 1634 e 18.000 antes de 1643. Na edificação de cidades, a construção de igrejas [pelo menos 35 em vinte anos], o estabelecimento de escolas gratuitas em todo distrito municipal, a abertura da Universidade de Harvard [1638], a primeira gráfica nas Colônias Inglesas [1639], os homens de New England colheram e caminharam distante de todos os demais colonos norte americanos. No senso de prioridades deles eles estavam distantes dos individualistas de outros lugares que buscavamlucro. A preocupação deles era construir uma cultura comum e uma sociedade unida. Como escreveu Joel Hawes: “O santuário, a faculdade, a casa escolar, a câmara legislativa e o tribunal de justiça, foram erigidos quase ao mesmo tempo com as próprias habitações humildes deles; e onde quer que uma determinação nova começasse, eram também iniciada debaixo da contínua influência de todas estas causas.”.
Dos seus humildes começos e seu isolamento relativo, New England cresceu assim até a preeminência. Em 1702 Cotton Matter pôde dizer que ela foi “a plantação que mais floresceu em todos os domínios americanos”,e o décimo oitavo século estaria bem avançado antes que ela começasse a perder o seu predomínio. Nos 140 anos desde 1630 até a Guerra da Independência nenhuma parte do Norte da América contribuiu tanto para o surgimento da nação, e é uma reflexão precisa dos fatos de história que hoje nos Estados Unidos, não é a ocupação deJamestownem 1607 que é comemorada mas a mais importante ocupação de Plymouth. Sem New England a história dos Estados Unidos teria seguido um padrão muito diferente.
O fator que deu a New England tão distintiva parte influente no desenvolvimento da nação americana foi a fé cristã. Na história da maioria dos territórios americanos o número de verdadeiros cristãos era geralmente uma mera fração da população total; mas em New England não era assim. Dos 102 passageiros do Mayflower é provável que noventa e oito pertenceram à congregação de John Robinson que tinha estado em exílio na Holanda desde 1608. Os reforços para a plantação de Plymouth vieram em grande parte da mesma fonte. Então em 1628 começou a haver na própria Inglaterra a maior imigração de cristãos de uma terra para outra, como jamais havia ocorrido dantes. Num período aproximado de doze anos, em 198 navios, os homens e suas famíliaschegaram à Baía de Massachusetts. Eram cavalheiros, comerciantes, fazendeiros, artesãos e ministros do evangelho. Uma coisa que a grande maioria deles possuía em comum era um compromisso fervoroso com aPalavra de Deus e particularmente com o Evangelho de Jesus Cristo.
Num senso poderia ser dito que eles vieram para New England para a própria vantagem deles porque vieram para escapar à perseguição. Mas eles poderiam ter escapado daquela perseguição com maior facilidade permanecendo em casa e cessando o apoio deles à causa Puritana pela qual eles haviam sofrido. Mas não poderiam fazer isto. Eles tinham experimentado a vida e o poder do evangelho e assim eles preferiram sofrimentos temporais com a continuação de privilégios espirituais a terem alívio do corpo e da alma. Como Cotton Mather escreveu:
“O Deus do céu se serviu disto paraconvocar os espíritos das pessoas do Seu povo na nação inglesa; incitando os espíritos de milhares que nunca viram as faces um do outro, com uma inclinação unânime para deixarem todas as acomodações agradáveis do seu país nativo, e atravessarem um oceano terrível, e num deserto mais terrível ainda, pelo puro prazer de cumprir todos os Seus mandamentos, e o desígnio desses refugiados era o de que eles pudessem manter o poder da piedade e praticar a adoração evangélica de nosso Senhor Jesus Cristo, em todas as suas partes.”.
Há muitos outros testemunhos sobre ocaráter dos primeiros colonos. Thomas Prince disse:
“Nunca talvez tenha sido visto antes, um tal corpo de pessoas piedosas reunidas juntamente na face da terra. Porque aquelesque vieram primeiro, vieram por causa da religião, e por causa daquela pura religião que era completamente odiada pelo mundo profano. Os líderes civis e eclesiásticos deles eram padrões exemplares de devoção. Eles encorajaram somente os virtuosos a virem e a seguir com eles.”.
Benefícios espirituais individuais não era o único objetivo em vista deles. Realmente criam que quanto mais um crente cresce na graça mais ele terá um interesse público em Cristo. New England foi implantada com a esperança e a oração que o evangelho poderia alcançar muitos outros. E também era a convicção dos colonos que eles teriam que construir para a posteridade uma sociedade e uma cultura que fossem distintamente cristãs. Certamente haviacristãos na América antes de 1620 mas somente em New England havia uma sociedade cristã unificada emergente. E isto porque somente havia lá uma vida espiritual comum existente, forte o bastante para alcançar as realizações da vida da comunidade que nós já mencionamos. Em 1640 um ministro de New England que tinha voltado à Inglaterra foi chamado para pregar ao Parlamento em Londres. No curso do seu sermão ele disse aos seus ouvintes: “eu tenho vivido num país onde em sete anos eu nunca vium mendigo, nem ouvi uma blasfêmia, nem vi um bêbado.”. Esta foi a primeira sociedade cristã da América.
Eu citarei agora algumas das características principais dos primeiros cristãos de New England.
I - Eles eram homens profundamentefamiliarizados com o poder do evangelho e com a experiência do trabalho do Espírito Santo. O melhor modo para ilustrar isto é resumir o que estava acontecendo na Inglaterra na ocasião em que New England foi fundada. Na Inglaterra a Reforma do 16º século tinha tomado duas formas. Havia um primeiro movimento espiritual que se tornou num forte núcleo de crentes, e o segundo era a separação oficial de Roma sob o governo civil que dava a toda a população o direito de se proclamar membro da igreja nacional protestante, sob a rainha Elizabeth em 1559.
Conseqüentemente os verdadeiros cristãos seriam achados misturados a uma multidão de cristãos nominais, mundanos, e os verdadeiros ministros da Palavra de Deus tinham freqüentemente colegas que eram destituídos de luz e zelo espiritual. Durante o reinado de Elizabeth esses ministros cristãos que não estavam contentes com a aceitação deste estado de coisas, ficaram diante do seguinte dilema. Ou eles se separavam da igreja nacional para formarem congregações com aqueles que consideravam verdadeiros cristãos, ou eles poderiam ficar na igreja nacional para trabalhar na introdução de disciplina espiritual na mesma. Esses que saíram eram os Separatistas, e um dos seus mais eminentes líderes foi John Robinson que conduziu a sua congregação perseguida para a Holanda. Um número muito maior fez a segunda escolha e é com este grupo que o nome Puritano é normalmente identificado. O foco do movimento Puritano era a Universidade de Cambridge e em 1602 William Perkins, era o principal pastor Puritano em Cambridge, e morreu com apenas quarenta e quatro anos.
No ano seguinte, Tiago I subiu ao trono, e em vez de escutar simpaticamente os apelos feitos pelo Puritanos para a reforma na Igreja, declarou que ele teria feito a eles conforme fizeram àqueles que foram expulsos da terra. E ele se esforçou para que esta declaração chegasse ao conhecimento dos bispos. Perkins tinha deixado dois seguidores eminentes: William Ames e Paul Baynes – na Universidade de Cambridge. No decorrer de poucos anos ambos pregadores foram silenciados, mas não antes que eles tivessem influenciado a muitos outros. Richard Sibbes foi um que havia se convertido sob Baynes e depois, John Cotton se converteria debaixo da pregação de Sibbes.
No caso de John Cotton [1584-1652] nós temos que fazer uma pausa, porque ele tem um lugar de destaque entre aqueles que cruzaram o Atlântico. Cotton foi um estudante de Cambridge, antes da morte de Perkins. Ele ouviu o líder puritano mas resistiu à sua mensagem. Tal, era de fato, o seu desagrado por Perkins, que quando ouviu o sino soar anunciando o seu funeral, ele abrigou um regozijo secreto em sua mente por ter-se livrado de tão poderoso ministério pelo qual a sua consciência tinha sido tão golpeada, e que foi o fator que conduzir Cotton a se converter sob a pregação de Sibbes.
Cotton Mather escreveu: “fiquei agora muito consciente da minha própria condição miserável diante de Deus e as setas destas convicções (sobre o pecado) golpeavam tão rapidamente que ficou por cerca de três anos em desconsoladoras apreensões, até que a graça de Deus lhe tornou um cristão completamente renovado, e o encheu de uma santa alegria que o acompanhou para sempre.”.
Sob John Cotton um outro futuro líder puritano seria despertado. Este era John Preston. Preston, parece, foi convencido na primeira vez que ele ouviu a verdade. Até aquele tempo nenhum ramo do conhecimento tinha lhe satisfeito. Tendo tentado o estudo e prática de medicina ele tinha se virado para a astrologia para fazer fortuna, mas acabou se convertendo sob Cotton.
John Cotton deixou Cambridge em 1612. Cotton tinha sido companheiro de EmmanuelCollege. E Emmanuel deixou diante de si um outro amigo que havia se convertido quando entrou na Universidade. Este era Thomas Hooker. Hooker tinha deixado Cambridge antes de outra figura que também foi eminente na história americana, Thomas Shepard, que esteve com Emmanuel em 1619. Por dois anos Shepard estudou duramente e manteve uma forma de religião. No terceiro ano, ele nos diz que começou a ficar tolo e orgulhoso. Num Sábado à noite ele bebeu em companhia de pessoas dissolutas e sentiu vergonha mas não conhecia a si mesmo. O verdadeiro conhecimento da sua condição somente veio quando John Preston (que se tornou mestre de Emmanuel College, pregou em 1622 as palavras: “Seja transformado pela renovação da sua mente.”.
Shepard deixou Cambridge em 1625.
Está bastante claro que, apesar da suspensão e silenciamento dos pastores, houve uma maré inundante de vida espiritual em Cambridge nos primeiros 40 anos do 17º século. Quando as autoridades removem um líder cristão o Espírito de Deus levanta muitos outros. Entre 1630 e 1639 entre sessenta e setentauniversitários foram para New England e a maioria deles tinha sido convertido em Cambridge naquele primeiro quarto do século dezessete. Quando estes homens foram lançados fora da sua terra, eles foram usados na conversão de milhares. John Cotton foi durante vinte anos ministro em Boston, Lincolnshire, antes que ele cruzasse o Atlântico em 1633. Sobre este ministério Cotton Mather escreveu:
“O bom Espírito de Deus assim plena e poderosamente acompanhou o ministério deste homem excelente que uma grande reforma foiforjada na cidade de Boston. A profanação foi extinta, a superstição foi abandonada, a religião foi abraçada e praticada pelas pessoas; sim, o prefeito, com a maioria dos magistrados, eram chamados agora de Puritanos.”.
John Wilson, outro homem deCambridge em New England, descreveu a pregação de Cotton com estas palavras: “O Sr. Cotton pregava com tal autoridade, demonstração, e vida que quando ele pregava sobre qualquerprofeta ou apóstolo, eu não o ouvia; eu ouvia aquele mesmo profeta e apóstolo; sim, eu ouvia o próprio Senhor Jesus Cristo falando ao meu coração.”.
Até mesmo mais notavelmente abençoada era a pregação de Thomas Hooker cujo último trabalho na Inglaterra foi como conferencista em Chelmsford, no município de Essex, entre 1626 e 1629. Continuamente ameaçado pelasautoridades da Igreja, Hooker pregava com coragem não diminuída, e a unção do Espíritoassistia à sua pregação de tal maneira que a luz do seu ministério brilhou por toda a região de Essex. Foi dito de Hooker por Giles Firmin que ele era um homem tão revestido da majestade e temor de Deus que ele poria um rei no seu bolso.”. Um homem de Essex que tinha seguido Hooker a New England foi convertido da seguinte maneira: Num dia da semana quandoHooker fazia sua conferência semanal em Chelmsford este homem estava bebendo com os seus companheiros numa taverna local. Eles estavam com seus espíritos alegres e para aumentar a diversão deles o homem em questão propôs aos seus amigos que eles deveriam ir ouvir aquilo que Hooker estava gritando para eles. E assim eles se dirigiram para a conferência de Chelmsford. O homem mal tinha entrado na igreja sem que antes a Palavra rápida e poderosa de Deus abatesse a sua alma; e ele veio para fora com uma alma despertada e aflita, e por uma bênção adicional de Deus no ministério de Hooker, ele chegou a uma verdadeira conversão; e por cuja causa ele jamais viria a abandonar este abençoado ministério depois disso.
Este homem era provavelmente típico de uma multidão de jovens convertidos que foram para New England. Outros eram cristãos mais velhos que estavam preparados para cruzar o Atlântico em lugar de perder o benefício da pregação sob a qual eles haviam estado debaixo na Inglaterra. A história conta como John Cotton deixou sua terra natal, ele consultou John Dod, uma das figuras paternas do movimento Puritano que viveu ate à idade de noventa anos. Dod lhe aconselhou a ir nestes termos: “Eu sou um velho Pedro, e devo suportar o ímpeto da perseguição parado, mas você é um jovem Pedro, que pode ir aonde desejar, e que sendo perseguido numa cidade pode fugir para outra.” . Mas Cotton objetou o que ocorreria ao seu povo se os pastores puritanos partissem. Ao que Dod respondeu imediatamente: “A remoção de um ministro era como a drenagem de um viveiro de peixes; os peixes bons seguirão a água, mas as enguias e os bagres ficarão aderidos na lama.”.
A predição de Dod foi correta. E há alguma maior prova do poder do evangelho no ministério dos homens que conduziram o êxodo para New England que o fato que, oferecendo nada mais que benefícios espirituais, eles foram seguidos por uma tal multidão? Era a medida rica da presença de Deus que fez de New England um tal lugar privilegiado nos anos 1630. Quando alguns que haviam ficado para trás hesitaram em cruzar o Atlântico este foi o argumento daqueles que tinham ido antes deles, que os alcançou: “não é ouro e prosperidade que fazem Deus ser nosso Deus. Embora haja mesmo muitos lugares onde os homens podem receber e podem esperar mais bens terrenos, contudo eu creio que não há nenhum lugar este dia na face da terra onde um coração sincero e uma cabeça judiciosa possa receber mais bens espirituais, e fazer mais bem temporal e espiritual a outros.” [Thomas Hooker].
II - Uma segunda característica dos primeiros cristãos de New England para a qual eu chamaria sua atenção era até que ponto o amor fraterno governou o viver deles. Esta era a graça que John Robinson especialmente urgiu na sua congregação que velejou primeiro em 1620 no Mayflower. Em primeiro lugar eles desejavam preservar freqüentemente a paz deles com Deus pela fé nas Suas promessas e no arrependimento renovado, e próximo a isso eles desejavam prestar atenção à paz deles de um com o outro porque “há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;”(Ef 4.4).
Durante oito anos os SeparatistasPeregrinos de New England viveram entre si em harmonia, mas com a chegada dos Puritanos que partiram da Inglaterra para lá depois de 1628 veio um grande teste do amor deles. Durante anos na Inglaterra tinha havido controvérsia entre os Separatistas e os Puritanos. Os Separatistas tinham acusado os Puritanos de chegar a um acordo e os autores Puritanos tinham respondido com fervor que os Separatistas eram cismáticos. Com a chegada dos Puritanos numa tal proximidade íntima dos primeiros Peregrinos da Baía de Massachusetts poderia bem ter havido uma controvérsia adicional. É um testemunho memorável a força de amor fraterno que os Separatistas, longe de se ressentirem com as novas chegadas que eram em números muito maiores do que eles, estavam logo unidos com eles em companheirismo espiritual.
Dos muitos modos nos quais o amor fraterno dos Puritanos de New England se expressou, nós podemos mencionar pelo menos dois.
Primeiro, foi visto ricamente na vida da igreja deles. Por exemplo, em cada congregação de New England havia pelo menos dois anciões pregando normalmente – denominados “pastor” e “mestre” -e este arranjo, longe de ser uma fonte de desarmonia, exemplificou o amor fraterno e estima que deveriam existir entre todos os cristãos.
Em segundo lugar, este mesmo espírito revelava a proximidade que estes cristãos sentiam aos que haviam morrido em Cristo. Eles consideravam o amor aos santos em glória ser algo que deveria estar em nossos corações aqui na terra. Eles levavam muito a sério o mandamento apostólico de lembrarmos daqueles “que falaram a você a palavra de Deus” (Hb 13.7) e não sem freqüência nós lemos sobre como estes cristãos de New England partiram desta vida para a alegria deles em antecipar o companheirismo íntimo deles com aqueles que tinham partido antes deles.
Sobre a morte de John Cotton, Matther escreveu: “Embora a base principal da prontidão dele ter sido inalteravelmente de doces e ricas alegrias que ele experimentava através do antegozo tanto quanto pela promessa que ele conhecia que o Senhor tinha reservado no céu para ele, contudo ele disse que o que contribuía para esta prontidão nele, era quando ele considerava os santos em cuja companhia e comunhão ele iria estar. Perkins, Ames, Preston,Hildersharn, Dod e outros que tinham sido queridos particularmente a ele, além dos demais daquela assembléia geral.”.
Talvez a crítica mais comum aos cristãos de New England - mais notavelmente em autores seculares – é que o espírito deles eramuito oposto ao amor. Tendo sido perseguidos, é dito, eles se tornaram em troca perseguidores de outros. A base para esta acusação reside em não terem eles permitido nenhuma pequena tolerância para o clero que veio para New England e quis usar o Missal e todas suas cerimônias como na Igreja da Inglaterra, e, segundo, que eles se opuseram a todos os demais cristãos não conformistas que não estivessem ligados a eles. A primeira destas declarações é indubitavelmente verdade que alguns poucos do clero foram mandados de volta a New England. Mas estes homens estavam em acordo com o governo repressivo na Inglaterra e se lhes tivesse sido permitido se fixarem emNew England, é bastante possível que a repressão dos Puritanos teria também acontecido lá, tal como ocorreu na Virgínia. John Brown no seu livro Os Pais Peregrinos de New England e os seus Sucessores Puritanos, escreveu sobre os líderes de New England: “A pergunta como se apresentou a eles naquele momento particular não era se eles deveriam tolerar outros, mas se eles deveriam dar a outros a oportunidade de serem intolerantes com eles. Então, os casos não são paralelos entre um governo forte que lança fora da sua terra uma pequena comunidade de homens conscienciosos, muito fracos e longe de serem perigosos, e aquela pequena comunidade que luta como que para vigiar a liberdade amada de vida que lhes custou tanto, e que poderia ser tirada de novo facilmente deles. [Esta visão também é compartilhada pelo Professor S. R. Gardiner, uma autoridade em história do décimo sétimo século.]
Quanto à segunda acusação de que eram intolerantes com todos os que não eram não conformistas bem responde o testemunho de Edward Winslow, um dos primeiros governadores da colônia de Plymouth: “Nós já estabelecemos uma grande diferença entre aqueles que fundamentaram a prática deles da Palavra de Deus, enquanto diferindo entretanto de nós na exposição e entendimento disto, e aqueles que odiaram tais reformadores e a reforma e que entraram em oposição anti cristã a isto, e em perseguição a isto.”.
Mather cita semelhantemente de outro líder de New England, Jonathan Mitchel, que era completamente ajustado ao modo de governoCongregacional da igreja, e que mantinha umespírito de comunhão com todos os crentes de todas as denominações. Ele falava que o espírito de Cristo é um espírito de comunhão. Esta atitude explica porque os Puritanos de New England podiam tratar com respeito os batistas que buscavam seguir a regra das Escrituras, e por que eles se opuseram aos Quakers que deixando de lado a regra das Escrituras estavam destruindo os fundamentos do Cristianismo histórico.
III - Eu passo agora a uma terceira característica da primeira geração de cristãos de New England. É o contentamento deles em Deus, e a sua confiança nEle, em face de todas as dificuldades opressivas e desânimos. Os sofrimentos dos colonos primitivos em New England foram freqüentemente um tema repetido e ainda permanece sendo uma história surpreendente. Dentro de três meses do desembarque em dezembro de 1620 somente aproximadamente cinqüenta dos cem originais sobreviveram. As sepulturas dos outros tiveram que ser sem marca e lápide para se prevenir de ataques dos índios que descobririam quão fracos os sobreviventes estavam numericamente. A maioria morreu de doença, outros de forma mais trágica. William Bradford estava com a primeira leva que usou o pequeno barco do Mayflower. Quando eles voltaram depois ao navio-mãe Bradford soube que a sua esposa tinha caído ao mar e tinha se afogado. Juntos por vários anos este pequeno grupo enfrentou perigos, labuta e escassez. “Eu vi os homens cambalearem”, diz Winslow, por causa da fraqueza pela falta de comida. E ainda em meio a tudo isto não havia qualquer espírito de murmuração ou descontentamento.
Quando os Puritanos começaram a chegar, a partir de 1628, eles enfrentaram condições semelhantes. Da grande leva que veio em 1630 debaixo da liderança do Governador John Winthrop uns duzentos morreram dentro de dezoito meses. Ainda nós achamos Winthrop que escreveu para casa na Inglaterra com estas palavras:
“Agradou ao Senhor ainda nos humilhar; mas Ele misturou tantas misericórdias com Suas correções que estamos persuadidos que Ele não nos rejeitará, mas que nos fará bem no Seu tempo devido... Nós não podemos aspirar por grandes coisas aqui. É bastante que nós tenhamos o céu, entretanto nós temos que atravessar o inferno para alcançá-lo. Nós aqui desfrutamos Deus e Jesus Cristo. Isto não é o suficiente? Eu não me arrependo de minha vinda; e se eu tivesse que vir novamente, eu não teria alterado meu curso, entretanto eu tinha previsto todas estas aflições.”. (Isto é a aplicação prática da ordenança bíblica de estarmos com nosso pensamento armado e preparado para o sofrimento, conforme I Pe 4.1,2 e Rom 8.17 – nota do tradutor).
Outro colono primitivo deu este testemunho:
“Eu considero isto um grande favor de Deus, não somente para preservar minha vida, mas me dar plenitude de contentamento em todos os nossos dilemas; apesar de não me lembrar de ter desejado em meu coração nunca ter vindo para este país, ou em desejar retornar de novo à casa de meus pais. O Senhor Jesus Cristo foi oferecido assim claramente para a pregação do evangelho, e agradou ao Espírito Santo de Deus acompanhar a palavra com tal eficácia para muitos, que nossos corações se foram da Velha Inglaterra, e se fixaram no céu. A pregação não somente do velho, como também do moço não consistiu em como nós vamos para a Inglaterra, mas como nós vamos para o céu.”. (Todos aqueles que foram humilhados na Igreja em que congregavam por motivo injusto e que sofreram perseguição e expulsão recebem da parte de Deus esta nova condição de espírito pelo ajustamento pleno à nova situação à qual Ele lhes conduz para consolação deles e para cumprimento do Seu eterno propósito de evangelizar o mundo – nota do tradutor).
Muitos dos cristãos que deixaram aInglaterra acharam isto uma decisão muito difícil para convencer a alguns que estavam apavorados com as probabilidades do que a viagem poderia envolver. Entre os que vieram depois estava a esposa de John Wilson que não pôde ser persuadida de nenhuma maneira a ir com o seu marido, até que por meio de oração e jejum ao Todo Poderoso a atitude do coração dela foi mudada. Entre aqueles que encorajaram a Sra. Wilson estava o conselheiro de John Cotton, o velho John Dod. O encorajamento de Dod teve uma forma incomum. Ele enviou um presente de três moedas diferentes à Sra Wilson mas falou para a pessoa que os levou queelas não deveriam ser entregues ao mesmo tempo; se a resposta dela fosse afirmativa para a primeira ela teria o direito de receber as outras duas moedas. A primeira moeda era de metal comum e de pouquíssimo valor. A segunda era uma coroa de prata de grande valor, e a terceira era de ouro maciço.
A aplicação que deveria ser feita a ela caso não demonstrasse o menor descontentamento ao receber a moeda de pouco valor é que se as pessoas que estavam indo para New England fossem gratas a Deus e estivessem contentes com as pequenas coisas que Ele lhes havia dado, a dispensação dEle para eles traria no tempo certo a prata e o ouro que lhes fosse necessário.
Ninguém pode ler estas memórias sem ser levado a considerar como estes homens e mulheres puderam manifestar uma tal medida grande de contentamento e gratidão debaixo de tais condições adversas. Em duas coisas, principalmente, parece consistir a explicação.
Primeiro, muitos destes cristãos, pelo estudo das Escrituras e por um conhecimento pessoal e íntimo com Deus tinham chegado a uma persuasão resolvida sobre a segurança e bondade do governo providencial dEle. Eles acreditaram que Deus reina e que ele trabalha todas as coisas juntamente para o bem - seja aflição, sofrimento, morte – daqueles que O amam e que são chamados segundo o Seu propósito. Eles crêem além disso que aquela providência divina entra nos menores detalhesda vida e que é então um pecado não confiar nEle em todas as horas. Centenas de exemplos de fé como estes poderiam ser dados e que podem ser achados nas vidas daqueles puritanos.
Quando Thomas Hooker estava pronto para deixar a Inglaterra ele estava sendo procurado por agentes do governo. Um amigo o acompanhou montados a cavalo para se dirigirem ao cais para esperar o navio, e consciente da proximidade dos seus perseguidores, ele disse ansiosamente a Hooker: “Senhor, e se o vento não vier quando o senhor embarcar no navio?” (o barco era à vela e necessitava de vento para zarpar). Ao que Hooker logo respondeu: “Irmão, deixemos isto com Aquele que tem o vento guardado na palma da Sua mão.”.
Em segundo lugar temos que dizer que a satisfação destes cristãos debaixo de aflição era devido às ricas consolações espirituais que eles receberam em Cristo. “Neste mundo”, escreveu Robert Cushman, “nós somos em todos os lugares, estrangeiros e peregrinos, que não temos morada fixa enquanto estivermos neste tabernáculo terreno.”. Contudo isto não significava que eles consideravam o céu como algo completamente futuro: muitos deles desfrutaram as primícias do céu aqui na terra, porque o amor de Deus era derramado no estrangeiro nos corações deles pelo Espírito Santo. Entre eles a garantia plena da salvação não era a raridade que existe conosco. Não poucos eram como William Bradford que, como já mencionamos, perdeu a sua esposa tragicamente em 1620. Antes que ele terminasse a sua peregrinação nos é dito sobre ele que cheio com consolações inefáveis, o bom Espírito de Deus havia lhe dado um penhor das primícias da sua eterna glória.
IV - A última característica desses primeiros cristãos americanos era a preocupação deles pela edificação de uma sociedade na qual Deus e a Sua Palavra fossem honrados. Eles não estavam preparados para viver uma vida cristã enclausurada, enquanto cultivando simplesmente piedade pessoal. A visão deles do dever deles era muito maior; eles consideraram outros e não menos as gerações que lhes seguiriam. O princípio do fundamento deles aqui não era que somente a igreja deve ser regida pela Palavra de Deus, mas que a mesma autoridade também tem que reger na vida da família, na educação na mocidade, e no governo do estado. Eu acho a perspectiva deles neste assunto muito bem declarada por J. C. Ryle em uma carta que ele enviou ao porto deLiverpool em 1881. Ryle afirmava que a prosperidade duradoura de qualquer pessoa depende da sua atitude para com a causa de Cristo:
“No decorrer dos anos, o padrão moral de uma cidade ou de uma nação é o segredo principal de sua prosperidade. Ouro, fábricas,descobertas científicas, portos e estradas, e falas eloqüentes, e atividade comercial, e instituições democráticas não são o suficiente para criar ou manter grandes nações. Tiro eSidon, Cartago, Atenas, Roma, Veneza,Espanha, e Portugal tiveram bastante posses como estas, e ainda entraram em decadência.Os tendões da força de uma nação são verdade, honestidade, sobriedade, pureza, temperança, economia, diligência, bondade fraterna, amor entre seus habitantes, e, por conseguinte, bom crédito entre o gênero humano. Deixe aqueles que ousam negar isto. E algum homem dirá que há algum caminho mais seguro e melhor paraproduzir estas características nas pessoas que encorajar, nutrir, proclamar e ensinar o puroCristianismo Bíblico?”. (certamente Ryle não estava se referindo a crentes nominais, mas ao tipo de cristianismo vivido pelos puritanos).
Na convicção dos puritanos os governantes civis têm que reconhecer a Palavra de Deus, e o Reino de Cristo. Eles sabiam que os governos só podiam ficar firmes se eles são baseados na moralidade que tem a sua base segura em Deus e na submissão à Sua Palavra. Adequadamente eles afirmaram que os magistrados têm uma obrigação religiosa: o poder deles é de Deus e eles têm que usar isto legalmente porque são responsáveis perante Deus.
Entre as muitas cartas preciosas preservadas no Mather´s Magnalia há uma dede Ezekiel Rogers escrita a um ministro irmãopoucos anos antes da sua morte em 1660 tratando sobre este assunto:
“Nós crescemos mundanos em todos os lugares; eu vejo pouca piedade, mas todos estão com pressa sobre o mundo; cada um por si mesmo, com pouco cuidado para com opúblico ou bem comum. Este tem sido o modo de Deus, de não enviar julgamentos extensos quando os principais magistrados são religiosos e crescem mais assim. Eu peço a todos os ministros para chamarem os magistrados seriamente, e lhes falar que a piedade deles será nossa proteção: se eles falharem, eu temerei algum julgamento sendo varrido brevemente. As nuvens parecem estar juntando. Oh! que eu possa ver alguns bons sinais para as gerações vindouras que me dêem alguma alegria.”.
Esta é a voz do Novo Inglês genuíno: outros – mundialmente crêem ainda que a piedade com contentamento é o melhor ganho a ser desejado para os seus contemporâneos e para a sua posteridade.
Os Puritanos de New England não acreditavam que as colônias deles avançariam porque eles eram mais fortes, mais sábios ou mais íntegros que outros. Com o reconhecimento da imperfeição deles e pecado, e com fé e muita oração, eles buscaram reconhecer Deus e o Seu Reino. A bênção que se seguiu era tudo obras das Suas mãos. O testemunho deles na vida e na morte era: “A bênção do Senhor enriquece e não traz nenhuma tristeza com ela.”. Olhando para o passado, o Governador William Bradford de Plymouth pôde declarar:
“De pequenos começos grandes coisas foram produzidas pelas mãos dEle... e como uma vela pequena pode iluminar mil, assim a luz aqui acendida tem brilhado para muitos, sim, de algum modo para toda anossa nação. Deixe o nome glorioso de Jeová ter todo o louvor!”.